Escravos Urbanos
Os escravos urbanos são pedintes por imposição e necessidade. A humilhação faz parte da sua rotina.
Pequena biografia da escravidão urbana atual:
Isa trabalha por 12 horas em pé, pois seu patrão não permite banco ou cadeira no caixa. Quando ela não está subindo ou descendo escada, está limpando o chão do restaurante.
Atender o celular é motivo para grave advertência. Então, a moça reza e pede a Deus que cuide do seu filho de 4 anos - em casa e na escola. Um atestado médico a faria perder os poucos benefícios que tem além do salário mínimo.
Paulo carrega mesas e cadeiras de manhã e a noite no bar em que trabalha. A companhia cervejeira patrocina o trabalho escravo ao fabricá-las o mais pesado possível.
O bar não cobra 10%, e nem permite que gorjetas sejam pagas com cartão pelos clientes. O jeito é implorar por um pix ou trocados para completar o salário mínimo. Os escravos urbanos são pedintes por imposição e necessidade. A humilhação faz parte da sua rotina.
Joaquim faz entregas pelo aplicativo sem qualquer direito trabalhista: carteira assinada, aposentadoria, férias, décimo terceiro salário, seguro de vida ou lazer. Embora sua mulher seja uma forte candidata a se tornar uma viúva desamparada e ver seus filhos órfãos.
No "quintal" do Tio Sam (como definiu seu Ministro da Defesa), é sempre tempo de Murici, e cada um cuida de si. Os contracheques da exploração podem ser chamados de pró-labore da miséria nacional.
E nos cortiços sem luz, água e sonhos, o silêncio acompanha a fome e o medo da gentrificação.
Mas o motorista do ônibus coletivo assobia feliz: "escravos de Jó cantavam o Caxangá..." .
"Tira, põe, deixa ficar! Guerreiros com guerreiros fazem zigue-zigue-za!".
P.S.: o povo trabalhador nunca esteve tão sozinho, sem um único partido ou sindicato ao seu lado, e com uma vanguarda corrupta e carreirista. A escravidão urbana hoje é bem maior do que a rural, e não para de crescer.