Jesus nunca comeu chocolate
Ao longo da vida, me tornei um amante do chocolate. Mas, nenhum ovo de Páscoa me trouxe tanta alegria como o que tinha, como recheio, o colo da minha Maria.
Um ovo verde, que as galinhas caipiras raramente botam, serviu à criatividade de minha mãe, que, em um domingo de Páscoa, estava determinada a enganar para trazer alegria à infância deste cronista.
Naquele tempo, as crianças eram facilmente convencidas, e por muitos anos acreditei naquela ilusão. Os ovos de Páscoa e o Coelhinho ainda eram coisas de rico, e só chegaram aos mais pobres quando imensas campanhas publicitárias foram promovidas pelas fábricas de chocolate.
Mesmo sem espaço no orçamento, muitas mães fazem o sacrifício de pagar por esses produtos, pois nada é mais valioso do que o sorriso de uma criança.
Uma mãe mentindo para negar a pobreza e alegrar o seu filho é algo sublime. Tanto que, até hoje, quando me deparo com um ovo verde como aquele, o passado põe um sorriso emocionado em meus lábios.
Ao longo da vida, me tornei um amante do chocolate. Mas, nenhum ovo de Páscoa me trouxe tanta alegria como o que tinha, como recheio, o colo da minha Maria.
Com o passar dos anos, aprendi que o amor e o carinho são mais importantes do que o consumo impulsionado pelo marketing. Afinal, não é a quantidade de ovos recebidos, o seu tamanho ou o seu preço que tornarão as crianças mais felizes. No fundo, elas sabem que nada nesse mundo é mais gostoso do que o abraço da mamãe.
O chocolate surgiu nas Américas, e não era sequer conhecido na Galileia ou em Belém. Esse costume, totalmente cristão, surgiu no Século Dezoito, na França.
Também foi em um dia de Páscoa que Jesus foi enganado. Mas, não por sua mãe, Maria. E sim por seu próprio povo, que lhe presenteou com uma cruz recheada com o amargo sabor dos nossos pecados.
P.S.: nas favelas brasileiras, é São Cosme e Damião quem mais leva alegria para a criançada, com balas, doces e chocolates que são entregues a todos de graça.