João Bosco Martins Salles
Em nossos encontros pelos bares, demos boas risadas sobre aquele episódio hilário da nossa juventude.
Em um belo domingo de sol, Gil César Moreira de Abreu (engenheiro responsável pela construção do Mineirão) lotou sua casa de amigos. Eu e João Bosco estávamos sentados à mesa bem na entrada da casa que ficava próxima à orla de Lagoa Santa.
De repente, entra Gil Cesar abraçado com Tancredo Neves, anunciando: "o meu candidato!" . Todos os presentes se levantaram e repetiram o grito. Apenas eu e João discordamos e, nos levantando, gritamos várias vezes: "meu não! Meu não!".
É que ainda sonhávamos com a vitória das Diretas Já. Eu era Brizola, e João talvez fosse Ulisses Guimarães, mas nunca perguntei qual seria o candidato do meu amigo.
Tancredo já se movimentava nos bastidores, e Gil era um influente deputado federal no Colégio Eleitoral.
Com a derrota das Diretas Já, Tancredo enfrentou Paulo Maluf. O candidato mineiro foi apoiado por João Bosco, e as camisetas feitas pelo cronista para sua campanha estamparam a capa do Caderno Feminino.
Em nossos encontros pelos bares, demos boas risadas sobre aquele episódio hilário da nossa juventude. Tancredo morreu sem tomar posse, e nós vivemos o suficiente para entender o quanto isso fez falta ao Brasil.
Companheiro, quando eu chegar por aí, quero ser recebido por vocês, e ouvir o Gil gritando: "o Baiano chegou!".
E aí direi o quanto amei vocês dois, e infelizmente não disse em vida.
Tancredo certamente estará nos vendo e pensando: "como nossa Minas Gerais fica mais pobre a cada dia".