Marielle Vive
Quando mataram Marielle Franco, escrevi em uma triste crônica: "tiros não apagam estrelas, mas ofuscam o brilho de uma nação
Isto não é uma crônica, e sim uma canção em dor maior que vou cantar para uma mulher que não mais combate entre nós. Sem estilo literário, palavras bonitas ou inspiração, eu reconheço a minha cumplicidade por omissão nesta letra que pode ser assinada por quem mais vestir a carapuça.
Poesia não se faz com tiros, bandidos, corrupção, impunidade, ódio e preconceitos. Quando mataram Marielle Franco, escrevi em uma triste crônica: "tiros não apagam estrelas, mas ofuscam o brilho de uma nação".
E o Brasil ficou opaco e envergonhado. Afirmei que "ser uma mulher corajosa no Brasil é muito perigoso, e cor da pele e a classe social só aumentam esse risco".
Isso, querido leitor, nem chega a ser um texto ou um artigo. É entulho e lixo podre, pois, fala de um país que se atirou na lama, e que afunda em um silêncio mórbido.
O assassinato de Marielle envergonha a todos os homens de bem desse país, cuja história já é marcada pelos terríveis capítulos da escravidão, genocídio e exploração.
"Somos homens e pertencemos a mesma família humana dos nossos carrascos".
Diante de toda a lama que está vindo à tona, devemos reagir e dar um basta, ou entregaremos de vez o controle do país aos bandidos.
Menina do Rio, sua morte poderá representar uma ruptura com a hipocrisia brasileira, o retorno da ética e o fim da Lei de Gerson. Ah, Marielle, se isso acontecer, o Brasil cumprirá a sentença que nos cabe por esse crime imprescritível.
E só assim o poeta poderá alcançar as estrelas que têm a sua altura e dimensão, e voltar a falar de amor.