Mentir por amor
Eduardo a chamava carinhosamente por este apelido, e ela bem sabia que ele tinha um passado como pichador de muros nos anos de chumbo.
Em um muro próximo à casa de Larissa, algum maluco pichou: "te amo, baixinha". Surpresa com aquela declaração, Larissa nem precisou se esforçar para identificar o seu autor.
Eduardo a chamava carinhosamente por este apelido, e ela bem sabia que ele tinha um passado como pichador de muros nos anos de chumbo.
Eufórica, Larissa correu em direção ao amado e, pulando em seus braços, perguntou apenas para confirmar: "foi você quem pichou o muro na minha rua com aquela declaração de amor, não foi?"
Uma verdade inútil só iria trazer frustração a um coração cego pela paixão. Eduardo, então, abraçou Larissa e mentiu: "sabia que você conheceria o autor".
"Mentiras sinceras me interessam..."
No aniversário de sua virginiana, Eduardo comprou uma linda bailarina de bronze e, mostrando-o ao seu compadre escritor, o amigo lhe sugeriu a seguinte dedicatória: "é preciso dançar a vida".
Assim que Larissa leu o cartão, disse: "foi o Roberto Drumond quem sugeriu a frase, né?".
Eduardo abaixou a cabeça e, como um ator em cena, empostou a voz para mentir mais uma vez: "como você pode pensar que eu pediria inspiração emprestado para enfeitar a noite do meu bem, Larissa?"
Tem mentiras que até Deus perdoa.
Larissa, que partiu cedo e que tanta falta faz ao coração e à alma do mentiroso leonino, hoje deve comentar com Roberto: "aquelas mentiras me fizeram tão feliz, querido, que penso que meu amor mentiu nos momentos certos."
Eduardo sabe que a sua maior verdade foi o seu amor pela baixinha, e sonha morrer em um primeiro de abril, pois, Larissa não iria acreditar.