Miles Deus
Eu já esperava por isso. No coração do roqueiro, o trompete melódico de Miles não era nada.
Miles Davis sempre virava as costas para o público, e tocava de frente para os seus músicos.
Levou o troco no Brasil, quando um sujeito maluco por ele e Jimi Hendrix virou-lhe as costas do começo ao fim de sua apresentação histórica em São Paulo.
Sem conseguir entender até hoje essa atitude, o coloquei contra a parede com uma pergunta a queima-roupa: "e se fosse o Jimi Hendrix? Você ficaria de costas"?
"Não"- respondeu na hora.
Eu já esperava por isso. No coração do roqueiro, o trompete melódico de Miles não era nada comparado à harmônica guitarra de Hendrix.
Miles tocava nota por nota, mas a pausa era uma eternidade, e é só nesse momento que o tempo para aqui na Terra.
É tão longo o intervalo, que dá para sentir não apenas as harmonias de Jimi Hendrix, mas também a melancolia de Billie Holiday e as tragédias de Piazzola.
Peça perdão a Apolo (o deus da música) toda vez que ouvir um jazz ou um rock-'’roll, meu velho roqueiro. Miles, onde estiver, deve dar risadas daquele jovem rebelde que sonhava em ser músico, e acabou tornando-se um engenheiro da Cemig.
Na capital mineira que sempre voltou as costas para seus artistas locais, tem dificuldade em superar a mentalidade de colônia.
Cláudio, que é o nome do rapaz, sempre encarou a vida de frente, e a música o conduziu por todos os caminhos, mistérios e sonhos por onde ele passa.
P.S.: Cláudio e todos os leitores que gostam de Blues estão convidados a apreciar neste sábado o show da banda Delta Xix, na Gujoreba, às 19 horas.