O Palhaço Fúnebre
Com as fantasias em mente, Maria encarou a realidade do supermercado, e saiu de lá assustada.
Maria decidiu pular o seu primeiro carnaval, pois todo mundo "tem o direito de tocar seu tamborim".
Para fantasia, pensou primeiro em Maria Bonita, só para esnobar todos os Lampiões que encontrasse pela frente.
Colombina? Nem pensar. Pierrot apaixonado é uma coisa muito chata na folia, e ficar triste como a jardineira estragaria o clima da festa.
Maria também acha Mulher Maravilha uma coisa cafona, e já está na hora dos brasileiros se livrarem das influências do Tio Sam.
Com que roupa, então, nossa heroína pretende subir Bahia e descer Floresta?
Com as fantasias em mente, Maria encarou a realidade do supermercado, e saiu de lá assustada com o preço do café e das frutas. Cada vez ela parecia ter menos poder de compra.
Perplexa, ela lembrou do IPTU, do IPVA, do material escolar das crianças. Por um instante, passou por sua cabeça a triste situação das crianças na Ucrânia, e a humilhação dos imigrantes deportados como delinquentes nos EUA.
Eureka! a ideia de fantasia para os dias de folia finalmente surgiu para Maria.
Na Nobres Pecadores, ela comprou uma peruca e um nariz de palhaço. Uma calça e uma camisa preta, um suspensório da mesma cor; uma gravata enorme, e um chapéu de Charlie Chaplin.
Fez um crucifixo enorme de isopor, pegou uma bíblia e pintou o rosto de branco, com uma lágrima em vermelho.
Maria vai sair de palhaço fúnebre.
E, em tom de oração, Maria improvisou um samba.
"Maria, o Brasil morreu, você vai rezar seu carnaval com a indiferença e o deboche da política nacional".