Os Deuses Também Morrem
Em um tempo em que não havia internet para facilitar a informação, era difícil para os pobres conhecer as novas estrelas que surgiam no mundo.
Um dos maiores sustos da minha vida foi quando ouvi Nina Simone pela primeira vez.
Quando criança, me encantava com Elis Regina se apresentando no Fino da Bossa da TV Record, e amava Gal Costa e Elza Soares. Mesmo assim, fiquei perplexo.
Em um tempo em que não havia internet para facilitar a informação, era difícil para os pobres conhecer as novas estrelas que surgiam no mundo.
Ao ouvir mais Nina, minha segunda reação foi de revolta. Pensei: "me esconderam isso!". Entendi que, se era possível cantar assim, o ser humano é capaz de ir mais longe do que eu imaginava.
Naquela voz pude sentir e enxergar todo o sofrimento da Humanidade. Recordei o pânico nos olhos das vendedoras de discos de Buenos Aires, ao me ouvir perguntar pelo disco de Mercedes Sosa em plena ditadura militar Argentina.
Nina me apresentou Miles Davis, Jonh Coltrane, Thelonius Monk, Duke Wellington, Dizzy, Bird, Billy, Sarah, Ella, Charlie Parker, Chet Baker e muitos outros músicos do jazz.
Mas nem mesmo a melhor música que já se produziu me levou a alcançar o que pretendia. Mas o pouco que caminhei até aqui foi inspirado por esses deuses.
Um dos poucos arrependimentos que tenho é o de não ter ido aos shows de Nina Simone, Miles Davis e Sarah Vaughan no Rio de Janeiro.
São erros da juventude, quando pensamos que os deuses são eternos.
Não. Os deuses partem nas asas da música que é eterna.