Pérolas aos porcos
Pela primeira vez, temeu que o seu avião caísse, e sentiu raiva daquele trabalho que o estava afastando de Márcia, ainda que por pouco tempo.
A última coisa que Edson queria na vida era sair de perto da mulher amada. Ele estava apaixonado, mas, os compromissos de trabalho o fizeram deixar Guarapari para fazer uma viagem de negócios a São Paulo.
Pela primeira vez, temeu que o seu avião caísse, e sentiu raiva daquele trabalho que o estava afastando de Márcia, ainda que por pouco tempo.
O playboy de Petrópolis havia finalmente encontrado no litoral capixaba tudo o que sempre sonhou: amor e felicidade.
Em São Paulo, acelerou as reuniões para poder voltar o mais rápido possível. São Paulo parecia menor que a sua aldeia. Nem mesmo do tradicional chopp no Bar da Brahma, que Edson considerava uma parada obrigatória em São Paulo, ele se lembrou.
Desta vez, não almoçou no Sujinho, nem jantou no restaurante O Gato que Ri. Ele só pensava em Márcia. À noite, foi ao shopping Iguatemi comprar um presente para sua amada.
Edson encantou-se com um colar de pérolas que custava uma fortuna, mas, para transformar sua amada em Rita Hayworth não economizaria um só centavo. Sem parcimônia, pagou e foi embora com um sorriso de Fred Astaire.
O amor balançou o coração vagabundo e promíscuo do ex-garanhão como o vento balança os coqueiros à beira-mar, e o deixou mais dócil que a besta de Sancho Pança, seguindo os passos de Rosinante pela Mancha.
Ufa! Finalmente estava de volta e, a cada passo que o aproximava de sua casa de Gatsby, com cinco mil metros quadrados de jardim e um iate ancorado, mais forte batia o seu coração.
Tamanha ansiedade o transformou em um adolescente. Atirou-se nos braços de Márcia como o suicida que se atira de um edifício sabendo que não haverá retorno.
Cego, não notou a frieza de Márcia, e, quando ela abriu o presente e viu a beleza do caro colar, perguntou: "consciência pesada, Edson?"
Depois de Márcia, nenhuma mulher que passou na vida desse homem ganhou um só presente quando ele viajava a negócios: o trauma o acompanhou até a última viagem.
"O amor tem razões que a própria razão desconhece."
P.S.: há muitos anos, me distanciei do protagonista desse texto, que montou a primeira concessionária de carros em Brasília, foi amante de uma belíssima primeira-dama e, no final dos anos 70, sacudiu Guarapari com a sua famosa discoteca. Seu maior sonho era vender tudo o que tinha e passar sua velhice em Trancoso, no sul da Bahia. Espero que ainda esteja vivo e que tenha o realizado.